quarta-feira, julho 24, 2002

"O amor é curto e bruto.
Soca tudo para dentro de seu tamanho,e lá dentro é tão pequeno.
Como não sair machucado de limites tão estreitos?
 
O amor tem cheiro,ninguém ama o que fede.
O amor é cheio de frescuras.
Quer flores e quer ser entendido.
 
Há gente que acha que amor são dois cubos lado a lado.
Há quem ache que são engrenagens justapostas.
Há quem não saiba o que fazer do próprio amor,
e há os que não o conhecem e nem por isso morrem.
 
Somos todos tão esquisitos.
Amamos e morremos de medo,ou então amamos e temos mil coragens, ou então estamos sempre a um pezinho só do amor e olhamos para os lados, perguntando: "Ninguém vai fazer nada?
Ninguém vai me dar uma mão com isto aqui?"
O amor vive dizendo: "se vira".
 
O amor nem sempre pára na rua pra nos cumprimentar.
Às vezes chegamos esbaforidos num lugar, e ele acabou de sair.
O lugar onde se sentou ainda está quente,a marca de sua bunda, em forma de coração,ainda é visível, mas estamos atrasados.
Noutras vezes, chegamos cedo demais,e nos enchemos e vamos embora antes que ele apareça - se é que aparece.
 
Às vezes o amor vem vestido de fome,de falta; às vezes nem dá nome na porta,entra quieto, tira os sapatos, olha pros lados, e voilá! estamos ferrados.
Às vezes vem como chuva,penetra nossa pintura e nos molha os olhos ou enche nossa barriga de formigas.
O amor nos deixa ansiosos, dependentes do relógio, donos dos meses sem fim entre desgostos mais ou menos óbvios.
 
E o amor vive comigo.
Tenho dois corações:
um é meu, com licença, que alguém tem que ser constante a meu lado;
o outro tem donos variados.
O amor o aluga a gente esquisita,a uns fodidos, mal-amados;
mas também o loca a gente maldita, que é bela, bonita e boa,
que me faz rir e achar bom não ser mais dono do que penso - essa gente
que me mata em cada ponto final
que resolve inventar. "

::::::::Orlando Tosetto Junior

Pedacinhos de um texto bonitinho de um Spamzine.